Especialistas debatem adaptação climática e soluções urbanas no Agenda ESG 2025
Representantes de diversos setores trataram do tema principal do evento em painel único
Vanessa Rodrigues/AT
O primeiro fórum da Agenda ESG 2025, promovido pelo Grupo Tribuna, apresentou um painel de discussão que colocou em evidência os desafios climáticos que o Brasil enfrentará até 2030.
Sob o tema “Brasil 2030: o clima impõe novos desafios”, o debate foi moderado por Gesner Oliveira, Professor da FGV e Coordenador do Centro de Estudos de Infraestrutura e Soluções Ambientais, e Arminda Augusto, Gerente de Projetos e Relações Institucionais do Grupo Tribuna.
Chicotada climática: o novo padrão de eventos extremos
Pedro Henrique de Christo, Urbanista Climático e Expert em Resiliência, trouxe ao debate o conceito de “chicotada climática”, fenômeno que tem se tornado uma realidade mundial. O especialista explicou que eventos hidrológicos e meteorológicos extremos têm aumentado significativamente, alternando entre períodos de grandes enchentes seguidos de secas severas.
“Você vê o Rio Grande do Sul, por exemplo. Enfrentou a grande enchente de 2024, só que no ano anterior tinha tido a maior seca”, exemplificou Pedro Henrique, citando também casos similares em Los Angeles, que enfrentou grandes secas com ondas de calor e incêndios, seguidas de chuvas intensas.
Pedro Henrique durante o 1º Agenda ESG 2025
Vanessa Rodrigues/AT
O urbanista destacou a necessidade de repensar a infraestrutura urbana: “No século passado a gente desenvolveu nossas cidades e as construímos para os carros. A gente precisa hoje fazer a mesma coisa nesse século para a água”. Ele propôs soluções como áreas alagáveis para absorver água durante chuvas intensas e sistemas de armazenamento para períodos de seca.
Pedro Henrique enfatizou que, apesar da importância da adaptação e regeneração ambiental, a redução imediata das emissões de carbono é fundamental: “Se a gente fizer tudo incrível na adaptação, mas não diminuir as emissões de carbono, tudo vai ser inútil”. O especialista identificou os combustíveis fósseis como o maior problema atual para a espécie humana e destacou que as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito estufa.
Indústria de seguros: da prevenção à adaptação
André Dabus, Diretor de Infraestrutura e Construção da Marsh Brasil, parabenizou a iniciativa do Grupo Tribuna e destacou que as discussões sobre mudanças climáticas e padrões ESG estão no centro dos negócios contemporâneos. “Todos nós estamos preocupados com o comportamento do nosso planeta, que de fato adoeceu e nós sabemos que o remédio não será tão simples”, afirmou.
André Dabos afirmou que os planos precisam ser de adaptação, não mais de prevenção
Vanessa Rodrigues/AT
O executivo explicou que a mudança de comportamento necessária não é mais de prevenção, mas sim de adaptação. A indústria de seguros no Brasil, segundo Dabus, se preparou ao longo dos anos para oferecer instrumentos de mitigação de riscos através de apólices tradicionais e para eventos catastróficos.
Um dos principais obstáculos identificados por André Dabus é a questão cultural brasileira. “Catástrofes eram vistas como algo que acontecia em outros países”, explicou, destacando que não havia percepção da necessidade de transferir riscos. Até recentemente, a preocupação se baseava apenas no histórico de eventos passados, sem considerar a proteção contra eventos futuros imprevisíveis.
O diretor apresentou dados comparativos reveladores: enquanto globalmente entre 60% e 80% das perdas catastróficas são seguradas, no Brasil esse percentual varia entre 5% e 10%. Essa baixa penetração da indústria de seguros contrasta com países como Estados Unidos e Europa, onde catástrofes são mais recorrentes e a transferência de riscos é mais comum.
Comunicação climática: do diagnóstico às soluções
Matthew Shirts, Diretor do World Observatory e ex-editor da National Geographic Brasil, trouxe uma perspectiva única sobre a comunicação das mudanças climáticas. Ele relatou sua experiência desde 2004, quando editou a primeira reportagem sobre mudanças climáticas para a revista.
“Foi muito difícil, foi uma reportagem maravilhosa, com os cientistas do mundo todo mostrando dados, mas editando aquele material vi que era um assunto muito sério e que ninguém estava repercutindo isso”, lembrou Shirts. O profissional revelou que editou cinco capas da National Geographic sobre mudanças climáticas e que, invariavelmente, as vendas caíam quase pela metade quando o tema era abordado.
Matthew Shirts durante o painel “Brasil 2030: o clima impõe novos desafios”
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“As pessoas gostam de aventura, civilizações antigas, mas não de mudanças climáticas”, observou Matthew, destacando o desafio de comunicar temas ambientais. Apesar das dificuldades, ele reconhece avanços significativos: “Muita gente já sabe que a mudança do clima chegou. As pessoas já têm uma ideia de como está o planeta, mas elas ainda não sabem o que fazer”.
O diretor defendeu uma mudança de abordagem na comunicação: “Esta é a hora de a gente começar a realmente, como jornalistas, falar de soluções, porque a ciência já nos deu o diagnóstico”. Shirts enfatizou a importância de discutir soluções dentro das cidades, onde vive a maioria da população, e sugeriu a criação de soluções inovadoras, mapeamentos e identificação de necessidades específicas.
Urgência e perspectivas para 2030
O painel evidenciou que o Brasil enfrenta desafios multifacetados até 2030, que vão desde a necessidade de adaptação da infraestrutura urbana até mudanças culturais na percepção de riscos climáticos. Os especialistas concordaram que a urgência da situação exige ações coordenadas entre diferentes setores da sociedade.
O consenso entre os participantes foi de que, embora os desafios sejam significativos, existem ferramentas e conhecimentos disponíveis para enfrentá-los, sendo necessária uma articulação mais efetiva entre poder público, setor privado e sociedade civil para implementar as mudanças necessárias até 2030.
COP30: Brasil no centro das discussões climáticas globais
Durante todo o painel, os participantes fizeram referências constantes à COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que acontecerá em novembro na cidade de Belém (PA).
Os especialistas destacaram que o evento representa uma oportunidade única para o Brasil demonstrar liderança global em soluções climáticas, especialmente considerando que o país sediará a conferência em plena Amazônia.
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