Estudante assiste à execução de ex-delegado e fica traumatizada: 'minha reação foi paralisar'
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Uma universitária, de 20 anos, testemunhou a execução do ex-delegado-geral de Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, enquanto estava esperando o ônibus para ir à faculdade em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Ao g1, a estudante de Psicologia disse que ficou muito nervosa e quase não conseguiu dormir após presenciar a cena.
“Fiquei traumatizada. Ainda bem que faço acompanhamento terapêutico, com certeza tratarei disso na próxima sessão”, disse a jovem, que preferiu não se identificar.
O crime aconteceu na última segunda-feira (15), na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, no bairro Nova Mirim, em Praia Grande. Segundo o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, os veículos usados pelos criminosos foram localizados, e a Polícia Civil identificou dois suspeitos por meio de impressões digitais encontradas em um dos carros abandonados.
A Justiça já recebeu o pedido de prisão temporária dos investigados, mas até a última atualização desta reportagem, ninguém havia sido preso.
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Estudante não esquece a cena
Ex-delegadon Ruy Ferraz Fontes, foi assassinado em Praia Grande (SP)
Matheus Croce/TV Tribuna, Prefeitura de Praia Grande e Reprodução
Ao g1, a estudante contou que mora em Praia Grande, mas cursa faculdade em São Vicente, cidade vizinha, e costuma esperar o ônibus para a universidade em um ponto próximo ao local da execução.
“Estava olhando na direção quando o carro do Ruy virou. Eu vi o carro virando com tudo na marginal e batendo no ônibus. Escutei barulhos de estouros e achei que fossem do carro, da batida. Depois vi homens correndo pela rua lateral”, relembrou a universitária.
A jovem disse que estava sozinha no ponto e, ao perceber o crime, ficou assustada, paralisada e em choque. “Nem consegui sair correndo, infelizmente minha reação foi paralisar e depois raciocinar o que tinha acontecido”, afirmou, acrescentando que reviveu a cena diversas vezes na cabeça.
Ela contou que tem Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e fez de tudo para evitar uma crise e conseguir seguir para a faculdade após o ocorrido. “Procurei me distrair um pouco no celular falando com a minha mãe, meu namorado, depois com música, qualquer tipo de coisa para distrair”.
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Prefeitura de Praia Grande e Reprodução
Trauma
Segundo a jovem, ela enfrentou muito trânsito para chegar à faculdade, mas não desistiu da aula por não poder ter faltas. “Fiquei nervosa o caminho todo, ainda mais com o ônibus indo em direção e se aproximando da cena”, disse.
Ao chegar à universidade, ela contou que reviveu o momento do atentado. “A cena não parava de voltar na cabeça. Na verdade, até agora. Foi assustador”, disse, acrescentando que perdeu a fome e teve dificuldade para dormir após chegar em casa.
De acordo com a estudante, o trauma é reativado sempre que alguém comenta sobre o crime. “Até evito as publicações da notícia porque volta na mente”, disse, afirmando que pretende redobrar a atenção ao esperar o ônibus no mesmo ponto.
“Agora eu fico bem mais receosa, ter que passar pelo lugar vai ser mais complicado até um certo tempo, imagino”, finalizou.
Vídeo mostra primeiro ataque a delegado após assassinos fazerem 15 minutos de tocaia.
Reprodução
Força-tarefa
A Secretaria de Segurança Pública de SP determinou uma força-tarefa integrada das polícias Civil e Militar, visando a identificação e localização dos criminosos envolvidos no homicídio do ex-delegado-geral Ruy Fontes. A perseguição foi registrada por câmeras de monitoramento (veja abaixo).
Segundo a SSP, equipes do DHPP, Deic, Garra/Dope, Cercos da capital e do Deinter 6 estão em diligências contínuas na região com apoio de batalhões da Polícia Militar, incluindo o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) de Santos e equipes da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA).
O caso foi registrado junto à Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Praia Grande e será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com apoio de demais departamentos.
Ex-delegadon Ruy Ferraz Fontes, foi assassinado em Praia Grande (SP)
WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO e Reprodução
O crime
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil, ocorreram momentos após ele cumprir expediente na Prefeitura de Praia Grande, no litoral de São Paulo, onde era Secretário de Administração. O local do crime fica a cerca de 600 metros do Paço Municipal, e a perseguição foi registrada por câmeras de monitoramento (veja acima).
O crime aconteceu na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, por volta das 18h20 de segunda-feira (15), no bairro Nova Mirim, perto do Fórum. Conforme a PM, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou a morte de Ruy no local.
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Ataques, fuga e execução
Com base nas imagens de monitoramento da prefeitura, os criminosos chegaram à Rua Arnaldo Vitulli, ao lado da Secretaria de Educação (Seduc), às 18h02 de segunda-feira (15). Eles permaneceram de tocaia até às 18h16, quando o ex-delegado passou de carro e foi alvo dos primeiros disparos de fuzil.
Ruy Ferraz Fontes tentou escapar pela Rua 1º de Janeiro, mas foi perseguido por cerca de 500 metros. Na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, bateu em um ônibus e capotou. Nesse momento, três criminosos armados com fuzis desceram do carro.
Um deles ficou na contenção, enquanto os outros dois se aproximaram do veículo e executaram o ex-delegado com diversos disparos.
Infográfico: criminosos fazem tocaia antes de iniciar ataque e perseguição ao delegado
Arte/g1
Tia e sobrinho feridos
O ataque também deixou outras duas pessoas feridas em Praia Grande, no litoral paulista. Segundo apuração do g1, as vítimas são tia e sobrinho, e estavam na porta da casa de um familiar quando foram atingidas pelos disparos.
Quem era Ruy Ferraz Fontes
Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes
Ruy Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022 e atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil. Teve papel central no combate ao crime organizado e foi pioneiro nas investigações sobre o PCC. Comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil, Fontes teve passagens por delegacias especializadas como o DHPP, o Denarc e o Deic.
Foi justamente no Deic, no início dos anos 2000, como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, que ele iniciou investigações sobre o PCC, sendo responsável por prender lideranças da facção e mapear sua estrutura criminosa.
Sua atuação foi decisiva durante os ataques de maio de 2006, quando o PCC promoveu uma série de ações violentas contra forças de segurança em São Paulo.
Entre 2019 e 2022, comandou a Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo. Nesse período, liderou a transferência de chefes do PCC de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder da facção dentro das cadeias.
Ruy Fontes participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá, e também foi professor de Criminologia e Direito Processual Penal.
Ele estava aposentado da Polícia Civil. Em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande, cargo que ocupava até agora, quando foi assassinado.
Adeus a Ruy Ferraz Fontes
O corpo do delegado aposentado foi sepultado por volta das 17h30 desta terça-feira (16), no Cemitério da Paz, no Morumbi, Zona Sul da capital.
Mais cedo, ocorreu o velório, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Por volta das 7h30, o corpo deixou o Instituto Médico Legal (IML), no Centro da capital, no carro da funerária e chegou na Alesp às 11h10, onde foi velado até as 15h. O velório público foi acompanhado por amigos, familiares, políticos e autoridades do estado de São Paulo.
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