Painel "O Impacto da Agenda Social" revela estratégias para projetos sociais
Painel aconteceu durante o 2º encontro Agenda ESG 2025
Alexsander Ferraz/AT
O painel “O Impacto da Agenda Social” do 2º Encontro Agenda ESG 2025 reuniu três especialistas com experiências distintas em projetos sociais para debater os desafios e oportunidades da agenda social no contexto ESG.
Moderado pelo economista Gesner Oliveira e pela Gerente de Projetos e Relações Institucionais do Grupo Tribuna, Arminda Augusto, o debate contou com três perspectivas complementares: Neide Santos, representando a ponta executora dos projetos sociais; Rodrigo Alonso, co-fundador e diretor do Instituto Elos, que atua como ponte entre projetos e empresas; e Jefferson da Silva Junior, coordenador de sustentabilidade da Ecovias, representando o lado corporativo que apoia e financia iniciativas sociais.
Antes do painel principal, Neide Santos, fundadora do projeto Vida Corrida, da Capital, fez uma palestra inspiradora sobre sua trajetória pessoal e a evolução do projeto ao longo de quase três décadas. A apresentação serviu como contextualização para a conversa que se seguiria, mostrando na prática como um projeto social pode se consolidar e gerar impacto duradouro na comunidade.
A complexidade do trabalho social
Rodrigo Alonso, do Instituto Elos, iniciou sua trajetória quando estava na faculdade de arquitetura em Santos, inquieto com o fato de que se formaria para atender apenas cerca de 1% da população brasileira. Sua reflexão sobre como chegar onde a arquitetura não chegava o levou até áreas como a Zona Noroeste e a subida dos morros de Santos, sempre buscando resgatar a beleza que esses territórios possuíam.
“Na área Social do ESG é muito importante falar sobre isso, porque as pessoas acham que o social é apenas fazer o ‘bem’, mas fazer o ‘bem’ bem feito demanda muita técnica e conhecimento. Fazer o social é o trabalho mais difícil do mundo”, destacou Alonso.
Rodrigo Alonso, co-fundador e diretor do Instituto Elos
Alexsander Ferraz/AT
O especialista relatou o case do Arte no Dique, da Vila Gilda, iniciado em 1999, que começou com a ideia de expandir um quintal que abrigava crianças no tempo livre. Em cinco dias, um mutirão construiu uma creche de palafitas, demonstrando às pessoas que era possível mudar as coisas. Um ano depois, uma segunda creche foi construída, e dez anos mais tarde surgiu o Arte no Dique, hoje, um projeto consolidado na cidade.
“Você vê, demorou 20 anos para isso acontecer. Temos que pensar sempre no longo prazo quando falamos desses projetos”, enfatizou Alonso.
Sustentabilidade e inclusão social
Jefferson da Silva Junior, da Ecovias, abordou a importância de transformar projetos sociais em iniciativas longevas. Ele explicou que a Ecovias atua em um cenário muito diverso, com o sistema Anchieta-Imigrantes passando por diferentes ambientes, desde trechos de serra até áreas industriais em Cubatão.
“Precisamos conversar com stakeholders e empresas também para definir o que podemos fazer, aí entra a parte do diálogo com a população para entender as principais dores e com isso construir projetos relevantes”, explicou Jefferson.
O coordenador destacou o viveiro de mudas da Ecovias, que completa 17 anos. Inicialmente criado para suprir a necessidade de cultivo de mudas nativas da Mata Atlântica, o projeto foi desenhado com um diferencial: o trabalho de inclusão social, empregando pessoas com deficiência.
Escuta ativa e demandas reais
Neide Santos, do Projeto Vida Corrida, compartilhou a filosofia do projeto que, em quase 30 anos, atendeu 5 mil pessoas, com algumas participando desde o início. O projeto começou apenas com mulheres que queriam praticar esportes e evoluiu para atender crianças da comunidade quando não havia creches suficientes.
Neide Santos durante sua palestra no Agenda ESG
Alexsander Ferraz/AT
“Tudo o que o Vida Corrida faz no bairro sempre vem de demandas. Nós nunca entramos com ideias ‘geniais’. Começou com mulheres que queriam a prática esportiva, depois com a necessidade de creches para as crianças”, explicou Neide.
A idealizadora destacou que o projeto está sempre aberto para receber empresas parceiras, citando o caso de um presidente de empresa que visitou o projeto três vezes em um único ano, demonstrando o impacto e a credibilidade construída ao longo do tempo.
Autenticidade e verdade nos projetos
Rodrigo Alonso enfatizou a importância da autenticidade no trabalho social: “Você tem que ser verdadeiro. Quando eu vou para algum lugar, eu não sei o que eu vou fazer, eu sei como eu vou fazer, escutando as pessoas e contribuindo junto com elas. E quando você faz junto com as pessoas, isso traz uma verdade muito grande”.
O especialista criticou a postura de quem mora em áreas privilegiadas e tenta impor soluções para comunidades vulneráveis sem conhecer suas reais necessidades. “Não sou eu que moro na Ponta da Praia e vou dizer o que tem que ser feito no Dique da Vila Gilda”, exemplificou.
Estruturação e ética empresarial
Jefferson da Silva Junior abordou os processos de avaliação de projetos sociais nas empresas, explicando que muitas pessoas têm conceitos maravilhosos, mas a estruturação dos projetos sempre precisa ser avaliada criteriosamente.
Jefferson da Silva Junior, coordenador de sustentabilidade da Ecovias
Alexsander Ferraz/AT
“Os processos incentivados chegam para nós. Nós recebemos, avaliamos através de uma comissão interna da empresa, olhando para vários indicadores de investimento e também para aquela dor da comunidade”, detalhou Jefferson.
O coordenador destacou a importância da ética e do compliance nos projetos sociais.
A questão da ética é fundamental. A partir do momento em que você apoia um projeto que tenha algum tipo de valor que seja ferido, que a empresa tem como fundamental, ele não pode ser viabilizado
“Os processos incentivados chegam para nós. Nós recebemos, avaliamos através de uma comissão interna da empresa, olhando para vários indicadores de investimento e também para aquela dor da comunidade”, detalhou Jefferson.
O coordenador destacou a importância da ética e do compliance nos projetos sociais: “A questão da ética é fundamental. A partir do momento em que você apoia um projeto que tenha algum tipo de valor que seja ferido, que a empresa tem como fundamental, ele não pode ser viabilizado”.
Lições para o futuro
O painel revelou que o sucesso de projetos sociais no contexto ESG depende de fatores como escuta ativa das comunidades, planejamento de longo prazo, sustentabilidade financeira e alinhamento ético com os valores organizacionais. Os três especialistas concordaram que fazer o bem “bem feito” exige técnica, conhecimento e, principalmente, autenticidade nas relações com as comunidades atendidas.
A discussão evidenciou que a agenda social do ESG vai muito além de ações pontuais de responsabilidade social, exigindo estratégias estruturadas, processos rigorosos de avaliação e comprometimento genuíno com a transformação social sustentável.
Fonte Oficial