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Órgão de tubos: 'gigante' musical faz reestreia no litoral de SP após 33 anos mudo; VÍDEO

Órgão de tubos: 'gigante' musical faz reestreia no litoral de SP após 33 anos mudo; VÍDEO


Órgão de tubos foi reformado na Igreja do Embaré, em Santos (SP) e pode até tocar ‘sozinho’
Após mais de três décadas de silêncio, o órgão de tubos da Basílica Menor de Santo Antônio do Embaré voltou a ecoar em Santos, no litoral sul de São Paulo. O projeto de restauro contemplou a reforma e a automação do instrumento, que tem mais de 75 anos de história. O ‘gigante’ de 35 m² e dois andares foi reinaugurado com o mesmo visual, mas seu imponente som estreou na era digital.
Com recursos arrecadados pelos fiéis e pelas mãos do restaurador Danilo Brás, o instrumento, construído na primeira metade do século passado, ganhou ajuda da tecnologia para tocar até ‘sozinho’. (veja no vídeo acima)
‘Rei dos instrumentos’: usual em igrejas para entoar músicas sacras, o órgão de tubos é composto por tubos de diferentes comprimentos que produzem som ao deixar passar o ar, a partir de um complexo sistema de teclados e pedaleiras.
Segundo especialistas, apesar de não serem considerados raros, a maioria dos órgãos de tubos existentes no Brasil estão em condições precárias ou descaracterizados. A manutenção dos exemplares é considerada um desafio pelo alto custo e falta de mão-de-obra especializada. (leia mais abaixo)
O órgão de tubos do Embaré tem 1.317 tubos, dois teclados manuais e uma pedaleira. A imponente estrutura é feita de madeira e metal e o restauro levou dois anos e meio.
O órgão foi reinaugurado oficialmente em junho, na missa do Dia de Santo Antônio. Na ocasião, foi anunciada pelo frei Paulo Henrique Romeiro, pároco da basílica, a retomada da operação do órgão. (veja vídeo abaixo)
“Cumprimos nossa missão. Foi a primeira vez que eles [os fiéis] viram funcionando”, disse.
Reinauguração ocorreu durante a missa de Santo Antônio em Santos (SP)
Patrimônio religioso
O órgão de tubos da Igreja do Embaré foi inaugurado em 1949 e é considerado um patrimônio religioso da cidade. Construído a partir das peças de outro instrumento importado anos antes da Alemanha, o órgão estava desativado desde 1992 após apresentar problemas mecânicos.
Além disso, a deterioração do instrumento foi agravada pela falta de uso. Nos anos 2000, a parte elétrica dele foi removida durante uma reforma da Igreja.
Após uma conversa com o Frei Paulo Henrique, o restaurador Danilo Brás resolveu iniciar em janeiro de 2023 a reforma do orgão. Os R$ 110 mil empenhados no serviço foram custeados com recursos arrecadados durante as festas promovidas pela Basílica, como quermesses e eventos aos finais de semana.
Desafio: O instrumento é produzido de maneira artesanal e a manutenção especializada deveria ser feita por um organeiro-mestre, profissional cuja formação leva pelo menos 10 anos.
Por isso, o restaurador precisou mergulhar em um minucioso processo que envolveu estudo e centenas de horas de trabalho para a completa desmontagem e restauração de cada um dos componentes do órgão de tubos.
Restauração e automação
Toda a parte estrutural e elétrica do órgão foi restaurada. Para isso, foram produzidas cerca de 1,3 mil molas inox – ante as de ferro existentes -, fabricados artesanalmente diversos tubos de madeira e criado um sistema de automação, que possibilita a utilização do órgão mesmo sem que haja um músico para tocá-lo.
Na versão manual, o instrumento é tocado por um organista com as mãos e pés simultaneamente.
“Toda vez que se conversava sobre o órgão, falavam: ‘Não tem quem toque’. Então eu pensei que eu tinha que automatizar. Eu não vou ficar com um instrumento que gastei uma fortuna à mercê de uma pessoa [que saiba tocar manualmente]. É um investimento que eu precisava ver funcionar”, conta.
Os serviços de restauro foram realizados, sob o comando de Danilo, pelos próprios colaboradores da Basílica do Embaré. A ideia era preservar a originalidade do instrumento na parte externa.
Reforma do órgão de tubos possibilitou reinauguração do instrumento após mais de 30 anos
Danilo Brás
Infográfico: órgão de tubos do Embaré uniu a comunidade para dar fim a anos de silêncio do instrumento
Arte/g1
A revitalização contou com o apoio de eletricistas e musicistas da basílica, que auxiliaram no processo para afinar as notas do instrumento após o restauro.
O órgão, então, recebeu uma controladora após a reforma. Por meio de um computador, sem um operador humano, ele pode receber o comando das notas para controlar a abertura das válvulas que liberam o ar para os tubos, por meio de um arquivo chamado Musical Instrument Digital Interface (MIDI).
Órgão de tubos foi automatizado em Santos, SP
Danilo Brás
Danilo disse que a automação foi fundamental para os testes do equipamento, tendo em vista que ele não possuía capacidade técnica para manuseá-lo. A presença de um músico era necessária no local para afinar as notas do instrumento. Essa ajuda veio do maestro Mario Tirolli, músico profissional há 35 anos.
Durante esses testes de afinação e automação, ele utilizou arquivos de obras famosas para o órgão reproduzir, tais como as trilhas sonoras de The Batman, Star Wars, Conan, o Bárbaro e até mesmo serenatas de Mozart. (confira no vídeo acima)
“Eu fui fazer também aula de teclado para aprender alguma coisa caso eu precisasse, mas eu percebi que não tenho talento nenhum para isso. Preciso realmente que seja automatizado”, brinca.
Órgão de tubos foi reinaugurado na Igreja do Embaré, em Santos (SP)
Desafios
Um dos entraves enfrentados foi a falta de materiais disponíveis, sendo que a maioria são importados. Por isso, foi necessário fabricar grande parte dos itens – como os tubos metálicos e de madeira – e adaptar outros materiais com os produtos disponíveis no Brasil.
“Muita coisa era da Alemanha. E o custo era alto por causa do Euro. A gente não tinha plena certeza se aquilo era exatamente o que a gente queria. Foi feita uma adaptação e fizemos testes com vários materiais”, conta.
Apesar disso, segundo Danilo, o maior desafio no trabalho foi mais pessoal do que técnico. Durante o período, a sua mãe teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e acabou morrendo em 2024.
Nele o período em que ela adoeceu, precisou utilizar as horas que passava na reforma do instrumento para cuidar da mãe. Os trabalhos eram realizados nos finais de semana e no seu horário de almoço. “Eu só não larguei o órgão porque ela me autorizou. E, infelizmente, ela não viu o órgão pronto porque ela acabou falecendo”, lamenta.
Órgão de tubos foi reformado na Basílica do Embaré, em Santos
Basílica do Embaré e Ronaldo Tarallo Júnior
Maestro Mário Tirolli e o órgão de tubos da Basílica do Embaré, em Santos
Danilo Brás/arquivo pessoal
‘Novos músicos’
O restaurador contou, porém, que se emocionou ao ver os membros da comunidade, que já atuavam na parte musical das cerimônias, interessados em utilizar o equipamento após a reforma. Uma delas é a professora de música Cátia Radzvilaviez Grande, de 64 anos, musicista há cerca de 40 anos.
Ao g1, ela contou que é tecladista e passou a integrar o quadro de músicos da Igreja há cerca de dois anos, quando soube que o equipamento estava sendo reformado. Mesmo com a extensa carreira, Cátia destacou que foi no Embaré em que ela teve o primeiro contato com um órgão de tubos.
“Foi emocionante e desafiador. Nunca tinha passado na minha cabeça tocar o órgão de tubos. Foi e é muito prazeroso poder ouvir seu som majestoso e, ao mesmo tempo, tão delicado,” afirmou.
Com ela, são três as organistas que atuam nas missas aos domingos. As outras ‘alunas’ são fiéis que aprenderam com ela a manusear o equipamento. “O importante é termos mais músicos utilizando esse instrumento e para isso sempre estou aberta a ensinar”, destaca.
Cátia Radzvilaviez Grande é professora de música há 40 anos e teve primeiro contato com um órgão de tubos na Basílica do Embaré
Arquivo pessoal
Análise
Um estudo científico produzido pela organista Elisa Freixo e pelo pesquisador Andrea Cavicchioli, da Universidade de São Paulo (USP), concluiu que o Brasil tinha, em 2010, poucas centenas de exemplares do órgão de tubos.
Por causa da mão-de-obra escassa no país, muitos órgãos acabaram tendo suas características comprometidas pela falta de profissionais capacitados para fazer consertos e manutenção.
“Portanto, em um cenário como este, a manutenção do patrimônio organológico é difícil ou mesmo quase impossível”, diz trecho do estudo.
A igreja da Sé, marco da cidade de São Paulo, por exemplo, abriga um órgão de tubos que é considerado o maior instrumento musical da cidade, com 11 mil flautas. Ele está inativo há mais de 20 anos devido à deterioração.
VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos
Fonte Oficial

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